Quando se referem a respeito da proteção do patrimônio histórico em Rondônia, imediatamente vem à mente a conservação de edificações, monumentos e locais de eventos históricos recentes, mas pouco, ou quase nada, é lembrado com referência à proteção dos sítios arqueológicos, registros da história mais antiga, ou pré historia.

A ocupação humana mais antiga, do que hoje é considerado como espaço territorial de Rondônia, faz parte do processo de movimentação das primeiras populações que se deslocaram para a América do Sul, porém são poucos os trabalhos realizados no sentido de localizar e estudar os sítios arqueológicos, locais que podem ajudar a entender este processo ocupacional.

O espaço físico territorial da América do Sul, incluindo a região amazônica, teve sua ocupação iniciada pelo menos 15 mil anos passados.

Trabalhos do arqueólogo Eurico Miller, realizados em sítios arqueológicos, localizados nas bacias dos rios Jamari, Candeias, Guaporé e Madeira, mostram que a ocupação humana em Rondônia iniciou provavelmente a partir do último período de resfriamento global (período glacial), entre 18.000 a 13.000 anos passados, e que esta ocupação passou a ser influenciada pelas variações climáticas/ecossistemas, e a estas mudanças se adaptaram (ou foram extintas).

Exemplo desta afirmação é a extinção da megafauna (preguiças gigantes e camelídeos) que habitaram regiões de savanas do oeste da Amazônia, e que foram afetados pela aridez de um ecossistema quente e seco, resultado do período glacial, onde a água é retida sob a forma de gelo. A existência destes vertebrados pode ter atraído para a região grupos de caçadores-coletores nômades.

Fósseis desta megafauna foram encontradas em escavações garimpeiras no Rio Madeira (25 m de profundidade), e fazem parte de acervos de museus (Museu Estadual e Museu Geológico), e de alguns em acervos particulares. Paleo-tocas recentemente encontradas na região de Abunã confirmam a presença desta megafauna.

A partir de 7.000 anos atrás o ecossistema de savanas foi sendo substituído pela floresta úmida, em período de aquecimento global, e os grupos de caçadores-coletores incorporam a sua alimentação pequenos moluscos que povoam lagos e pântanos. Sambaquis flúvio-lacustres, com carapaças desta fauna foram coletados na bacia do Rio Guaporé, estudados na década de 70 pelo pioneiro Dr. Ary Pinheiro. Estas peças fazem parte do acervo do Museu Estadual de Rondônia.

Ao redor de 5.000 anos passados o modelo de ocupação se alterou mais profundamente com a adoção de uma agricultura incipiente, que foi transformando aos poucos os acampamentos dos caçadores-coletores nômades em aldeias de tribos de agricultores semi-sedentários. Esta mudança é identificada em sítios arqueológicos nas bacias dos rios Jamari/Candeias.

A partir de 4.000 anos passados iniciou o uso de ferramentas líticas (fragmentos de pedras polidas ou lascadas) e de vasilhame cerâmico. Peças encontradas nas bacias dos rios Guaporé, Jamari/Candeias e Ji-Paraná/Machado, mostram esta mudança. As peças cerâmicas mostram semelhança de formas com a cerâmica da costa pacífica do Equador, possivelmente difundida por populações que se deslocaram através dos Andes pelos afluentes formadores do Rio Madeira.

Este modelo de ocupação por produtores de alimentos vegetais, vasilhame cerâmico e ferramentas líticas, se expande por toda a região do território de Rondônia, originando os atuais grupos indígenas.

Para que o conhecimento desta parte da história evolua é necessário não só a proteção de sítios arqueológicos, já previsto na legislação, mas também é necessário que o governo de Rondônia invista nas estruturas do Museu Estadual de Rondônia e Museu de Geologia, ambos hoje em estado de abandono, para que as peças já coletadas sejam preservadas e reorganizadas.

Artigo escrito por Renato Muzzolon, sócio diretor e geólogo da Avistar Engenharia.