Um Dia para Reflexão, Celebração e Luta

A lembrança do Dia Mundial das Florestas e do Dia Mundial da Água é um importante momento de reflexão e celebração, mas também um dia de luta, pois nos recorda da necessidade contínua de proteger e preservar esses recursos vitais para o nosso planeta e para as gerações futuras.

Engajar nessa luta é fundamental para assegurarmos que as florestas continuem de pé e que a água permaneça acessível e limpa para todos e todas.

Cada um de nós tem um papel a desempenhar na proteção desses recursos, seja através de práticas sustentáveis no nosso dia a dia, seja através do apoio a políticas e iniciativas de conservação.

 

Por isso, conversamos com Renato Muzzolon, Geólogo e socio-proprietário do Grupo Avistar Engenharia e Sarah Santos, Engenheira Florestal do Grupo Avistar Engenharia sobre o tema.

Segundo Muzzolon, o principal desafio da gestão e conservação dos recursos hídricos é a integração de diferentes campos do conhecimento, com o objetivo de buscar formas de reaproveitamento para o uso da água.

Já Sarah Santos, ao falar sobre a importância da manutenção das florestas em pé, lembrou que estas vão muito além dos benefícios meramente econômicos. Para as comunidades locais, a floresta em pé representa casa e subsistência, o que, em termos sociais, garante dignidade a quem dela depende.

Renato Muzzolon, Geólogo e sócio proprietário do Grupo Avistar Engenharia.

Confira trechos da entrevista:

Quais são os principais desafios enfrentados na gestão e conservação dos recursos hídricos atualmente?

 

Renato Muzzolon – Na gestão/conservação dos recursos hídricos é necessária a integração de várias disciplinas: agronomia na proteção da erosão do solo, florestal na gestão da vegetação no entorno das nascentes e nas áreas de proteção permanente dos corpos hídricos, a geologia na gestão dos recursos hídricos em profundidade, a engenharia civil nos cuidados dos projetos de ocupação do solo (urbano e rural), a engenharia ambiental no monitoramento e controle dos corpos hídricos superficiais, enfim é uma responsabilidade multidisciplinar. Portanto o principal desafio é como interligar estes diferentes campos do conhecimento com objetivo único da gestão.

 

Qual o papel da geologia na compreensão e na preservação dos recursos hídricos?

 

Renato Muzzolon – A geologia tem como papel principal a gestão do lençol freático, que são os recursos hídrico sub superficiais que são fonte de alimentação dos principais corpos hídricos superficiais, mas também tem participação nos estudos de uso e ocupação do solo na parte de interpretação e controle do processos físicos de modificação da paisagem.

 

Quais são as perspectivas futuras para a disponibilidade de água, considerando os desafios globais, como o crescimento populacional e as mudanças climáticas?

 

Renato Muzzolon – O principal foco deve estar no desenvolvimento de processos para reuso da água, uma vez que o ciclo hidrológico é fechado, ou seja, a quantidade de água é sempre a mesma, e se distribui em diferentes formas: vapor (gases), sólida (gelo) ou liquida, portanto sempre temos o mesmo quantitativo de água circulando, e a opção é buscar formas de reaproveitamento.

 

Sarah Santos, Engenheira Florestal do Grupo Avistar Engenharia.

Como você descreveria a importância das florestas em pé para o meio ambiente e para as comunidades locais?

 

Sarah Santos – Poucos de nós, inseridos nessa selva de pedra como dizem, lembramo-nos que somos seres da natureza. Especialmente no Brasil, apesar dos diferentes biomas encontrados, ainda sim, somos filhos da floresta, com dia a dia rodeado pela beleza das flores, do verde das folhas, dos frutos diversos, da firmeza dos troncos e da fauna que acompanha todo este cenário.

A importância das florestas vai muito além dos benefícios econômicos por ela fornecidos, mas especialmente, pelos serviços ecossistêmicos prestados, que nos afetam direta ou indiretamente, notadamente com relação ao suporte e disponibilidade hídrica e nutricional de solos, regulação da qualidade do ar, microclima, erosão e enchentes, polinização, assim como o suporte para atividades cotidianas de produção e dos benefícios culturais relacionados para a população entorno.

Para as comunidades locais as florestas representam casa e subsistência, que em termos sociais, garantem dignidade a quem dela depende.

 

Como a presença de uma engenheira florestal pode fazer a diferença na proteção e gestão sustentável das florestas?

 

Sarah Santos – Um (a) Engenheiro (a) Florestal é especialista no que tange ao conhecimento da floresta, das árvores e suas interações com a fauna, pessoas e paisagem. Assim sendo, se trata de profissional que estuda as variáveis ambientais a fim de garantir a condução efetiva de uma floresta, sejam os fins de manejo ou conservação, desde a concepção do projeto, da semente até árvore senil, e do que decorre delas.

Em suma, é um profissional indispensável para entendimento de zoneamento e caracterização ambiental, voltado a identificar as reais potencialidades, bem como das restrições da vegetação em que se atua, pois entende como o ciclo da floresta funciona, reconhecendo os limites das interferências na vegetação, com capacidade de propor medidas de mitigação e recuperação do ocorrido. Tais ações visam não somente recompor e reestabelecer a floresta, mas as funções e interações ecológicas da mesma.

 

Quais são os benefícios econômicos, sociais e ambientais de investir na conservação das florestas em pé a longo prazo?

 

Sarah Santos – Investir na conservação das florestas é uma ação urgente, dado o grau de desmatamento visualizado nos últimos anos para os diferentes biomas do Brasil. Só na Mata Atlântica, os dados do Atlas de Remanescentes Florestais de 2023 (Fundação SOS Mata Atlântica) evidenciou que restam apenas 11,8% da vegetação original no estado do Paraná.

A conservação das florestas é imprescindível para a manutenção da vida como um todo, no entanto, como os benefícios são visualizados em grande parte de maneira indireta e a longo prazo, com frequência não se dá a devida importância.

O principal benefício visualizado é o ambiental, a partir da manutenção dos serviços ecossistêmicos prestados, que interferem em grande parte das atividades cotidianas relacionadas a vida humana e que nos permitem conduzir nossa dinâmica nos tempos presentes e futuros, além do benefício da própria conservação para própria floresta e fauna.

Do outro ponto de vista, os benefícios sociais da manutenção da floresta são culturais e recreativos, e aqueles que interferem na melhora da saúde física e mental da população.

Por fim, os benefícios econômicos se tratam indiretamente da garantia das condições mínimas para continuidade das atividades econômicas a longo prazo, assim como do retorno financeiro das práticas de conservação realizadas pelas empresas e proprietários, visualizados a partir da criação de políticas públicas como do ICMS Ecológico e da Lei de Pagamentos por Serviços Ambientais (Lei nº 14.119 em 13 de janeiro de 2021).

texto: Ascom