O foco da conversa foi a organização do evento, os desafios e as oportunidades no setor mineral do estado, além do papel da Agência Nacional de Mineração (ANM).
Nesta primeira parte da entrevista, a professora Dra. Ariadne destacou a importância de aproximar a academia da iniciativa privada e dos órgãos reguladores, enfatizando a necessidade de um diálogo contínuo para promover o desenvolvimento da mineração no Paraná.
A segunda parte da entrevista, com José Augusto Simões, especialista em recursos minerais do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), será publicado no dia 11 de setembro.
Confira trechos da entrevista:
Eu queria que você falasse um pouquinho da importância desse tipo de seminário, o que motivou a realização desse workshop aqui na cidade de Curitiba.
A motivação principal foi a convergência de ideias e interesses dos diferentes atores que estão na Universidade. Sentimos um distanciamento muito grande entre a academia, os estudantes, a iniciativa privada, os órgãos reguladores e o serviço geológico. A ideia é unir esses diferentes atores para discutir e agregar de forma mútua. Os estudantes, por exemplo, embora não participem ativamente do evento, têm a oportunidade de ver na prática aquilo que aprendem na teoria e de conhecer profissionais de diversas instituições, o que enriquece muito o diálogo.
Ali no café onde alguns paineis de pesquisas são expostos, ficou claro esse distanciamento que mencionou antes. Deu pra ver que duas das quatro pesquisas expostas debatiam essas dificuldades. Portanto, a partir desses desafios que você falou, quais são os principais desafios que o setor mineral no Paraná, mais especificamente, enfrenta hoje, e de que forma esse workshop pode contribuir?
Do ponto de vista da academia, é importante mostrar que temos uma realidade geológica que precisa ser mais valorizada. Muitos alunos sonham em trabalhar fora do Estado com minerais metálicos, sem perceber as oportunidades que temos aqui, como na lavra de argila e brita. Isso poderia até motivar mudanças na estrutura do curso, como tornar obrigatória a disciplina de rochas minerais industriais. Já em âmbito nacional, os desafios passam pelas agências reguladoras e pelo fomento à pesquisa e desenvolvimento de cartografia básica.
O Paraná tem um setor mineral que representa uma fatia significativa do PIB, quase 10%. Como você vê a importância desse setor para o Estado?
Exatamente. O Paraná é conhecido como o celeiro do Brasil, e por trás disso há uma grande indústria mineral. Não só no insumo agrícola, que vem da mineração, mas também na infraestrutura básica do Estado, que depende de recursos como a brita para a construção de rodovias. Em 2021, o setor mineral produziu entre 78 e 80 milhões de toneladas de bens minerais, um valor muito próximo ao da produção agrícola, mas o agro tem espaço na mídia, enquanto a mineração ainda não tem.
Quais são as expectativas em relação aos resultados e impactos deste workshop para o mercado e para a academia?
Há uma série de desdobramentos que surgem desse tipo de evento. A interação entre diferentes pessoas e setores durante o workshop levanta ideias que podem ser tratadas dentro da academia, na ANM, e em parcerias com o serviço geológico. Por exemplo, temos uma empresa júnior de geologia que quase não recebe demanda. Durante o workshop, surgiu a ideia de prospectar possíveis empresas interessadas em usar o rejeito da brita como remineralizador agrícola, oferecendo serviços de caracterização de materiais. São esses desdobramentos que fazem o workshop tão valioso. Então são ideias que surgem desse espaço que são extremamente valiosas.